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CPFL compra AES Sul e inicia consolidação das distribuidoras

Aquisição da companhia gaúcha por R$ 1,7 bilhão vai aumentar sua fatia no mercado para 14,3%




A venda da AES Sul para a CPFL Energia, anunciada na manhã de ontem, foi o primeiro passo de uma consolidação maior do segmento de distribuição no país.

"Nós, como maior agente privado, estaremos atentos às oportunidades", afirmou o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Junior, em teleconferência com jornalistas para comentar a operação.

Além da venda da concessionária gaúcha da americana AES, o setor aguarda ainda a privatização da Celg Distribuidora (Celg D), a potencial venda da participação de 19,23% do FIP Redentor na Light, e a venda das demais distribuidoras do grupo Eletrobras no Norte e Nordeste.

A operação anunciada ontem não pegou o mercado totalmente de surpresa. Desde que a AES iniciou o seu processo de reestruturação global, no ano passado, e que envolveu a troca do comando no Brasil em abril deste ano, o mercado já trabalhava com uma venda potencial da AES Sul. O interesse da CPFL pelo negócio também já estava no radar dos investidores. Os executivos da companhia vinham sinalizado que poderiam olhar com mais atenção a oportunidade, dependendo de como o negócio se desenvolveria.

Segundo o J.P. Morgan, a venda da AES Sul sinaliza que a americana AES Corp está pronta para se desfazer dos negócios de distribuição no Brasil, indicando que a venda da Eletropaulo pode acontecer se o preço correto for considerado.

"O fluxo de notícias destaca a forte atividade de fusões e aquisições no setor elétrico no Brasil e apetite por ativos de qualidade, como a AES Sul", disse o banco.

A possibilidade de adquirir a Eletropaulo seria considerada pela CPFL se surgisse, disse Ferreira. No entanto, ele destacou que a situação da distribuidora é mais complicada do que a da distribuidora gaúcha. A AES Sul era 100% controlada pela AES Corp, enquanto a Eletropaulo tem o controle dividido entre a companhia e o BNDES. "Ela tem que falar com seus sócios e montar uma estrutura diferente dessa, tem que negociar com outros", disse ele, completando "não ter conhecimento" de que a empresa também esteja à venda.

A CPFL vai desembolsar R$ 1,7 bilhão pela concessionária de energia, além de assumir R$ 1,1 bilhão em dívidas. Segundo Ferreira, cerca de dois terços do montante será financiado com empréstimos. Para o restante, será usado capital próprio.


Para a AES, a venda da distribuidora indica uma estratégia da companhia de priorizar a geração de energia Com a aquisição, a CPFL vai passar de uma fatia de mercado nacional de distribuição de 13% para 14,3%. A companhia ficará responsável pelo fornecimento de energia para 382 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, com uma participação de mercado de 69%.
O presidente da CPFL não descartou uma potencial aquisição da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), distribuidora estatal gaúcha. "Faria muito sentido para nós no futuro fazer essa aquisição, reunificar as concessões do Rio Grande do Sul, poder compartilhar as boas práticas. Não temos nenhuma preconceito contra isso", disse ele.

Para o executivo, há uma espécie de "preconceito" contra privatizações, o que não tem sido bom para o país, mas o momento atual indica que isso está mudando. Ele lembrou que as concessões da RGE e da AES Sul foram privatizadas pelo governo gaúcho em 1997, o que resultou em recursos para equilibrar as finanças do Estado.

Já para a AES, a venda da distribuidora do Sul indica uma estratégia da companhia de priorizar a geração de energia, afirmou o professor Renato Queiroz, do Grupo de Economia da Energia (GEE), da UFRJ. "A AES deve focar em geração e diminuir, ou sair, da distribuição", disse Queiroz, lembrando que a companhia tem planejado investimentos em fontes solar e eólica e tem interesse em projetos termelétricos.

"O negócio faz parte do processo de consolidação do segmento de distribuição e mostra a postura da AES, um grupo americano, frente a essa instabilidade econômica e política e do setor elétrico. Grupos americanos não gostam de correr esse tipo de risco. Investidores americanos têm outra lógica, da rentabilidade trimestral. Já a CPFL tem uma visão de mais longo prazo", afirmou o coordenador do Gesel/UFRJ, o professor Nivalde de Castro.

Com relação à CPFL, Castro afirmou que a companhia terá ganhos de sinergia, devido à operação da distribuidora RGE, também em território gaúcho. "A CPFL tem ganhos externos ao negócio da AES Sul. E esse valor da operação [R$ 1,7 bilhão] não impacta o caixa da CPFL, que é um grupo robusto", completou o especialista.

Segundo os analistas Vinicius Canheu e Arlindo Carvalho, do Credit Suisse, a CPFL tem espaço para conseguir ganhos significativos de eficiência na AES Sul, permitindo cortes de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões nas despesas operacionais anuais nos próximos anos. Em relatório, eles calcularam que o Ebitda regulatório atual da distribuidora, de R$ 330 milhões, pode chegar a até R$ 400 milhões, enquanto uma performance operacional melhor pode fazer com que o número chegue a até R$ 500 milhões em dois a três anos. (Colaboraram Rodrigo Rocha e Juliana Machado, de São Paulo)

Fonte: Valor Econômico
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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