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Canadian Solar vai investir R$ 2,3 bi no Brasil em geração



A Canadian Solar, uma das maiores companhias do mundo no segmento de energia renovável, vai estrear no Brasil com um investimento de R$ 2,3 bilhões. O montante vai ser utilizado na implantação dos projetos de cerca de 400 megawatts-pico (MWp) em energia solar, além da montagem de uma linha de produção na fábrica da Flextronics em Sorocaba (SP), onde serão produzidos os painéis solares utilizados.

A ideia inicial da companhia era ter uma fábrica própria no Brasil, mas a solução encontrada veio para minimizar o risco e a resistência dos sócios estrangeiros. A Canadian Solar vai investir R$ 80 milhões na nova linha de montagem na Flextronics, que vai produzir os painéis utilizando a tecnologia da Canadian.

"Há um acordo de cooperação, transferência de tecnologia. Eles estão assumindo a posição da fabricação, mas a Canadian é dona da marca e do produto", disse ao Valor Wladimir Janousek, gerente-geral da Canadian no Brasil. A Flextronics, diz ele, vai atuar como uma "terceirizada".

A alternativa foi encontrada devido à necessidade de obtenção de financiamento pelo BNDES, que exige a presença de conteúdo local para liberar o crédito.

"Desde o início, a Canadian balizou sua estratégia na obtenção de recursos através de financiamento das linhas específicas do BNDES. Exatamente por essa razão é que se fez necessária uma fábrica no país, para fornecer os produtos com o conteúdo local exigido, mesmo que o produto acabe ficando com preço ainda mais alto que o importado", disse Janousek.

A expectativa da Canadian é utilizar até 80% de crédito do BNDES e financiar o restante dos investimentos com capital próprio.

"Esperamos que, com essa iniciativa, outros fabricantes venham, que isso traga uma alternativa plausível para outros se instalarem aqui", disse Janousek. Segundo ele, dessa forma, o investimento é compartilhado e reduzido significativamente.

A Canadian Solar foi fundada no Canadá pelo chinês Shawn Qu. A receita líquida da companhia somou US$ 3,5 bilhões em 2015.

Os projetos em implementação foram obtidos em leilões de energia de reserva (LER) em 2014 e 2015. Inicialmente, a Canadian Solar era parceira da espanhola Solatio, mas a empresa não tem mais participação nos projetos.

A Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) atuou desde o início na atração dos investimentos para o país, em parceria com a Investe São Paulo. As conversas para atração dos investimentos tiveram início em 2013, antes do primeiro leilão de energia solar, que aconteceu em 2014.

Segundo Maria Luisa Cravo Wittenberg, gerente de investimentos da Apex-Brasil, foi feito um estudo da competitividade do Brasil, para depois identificarem empresas que atuam no segmento.

A partir desses investimentos da Canadian Solar e dos próximos leilões que envolvam energia solar, a expectativa é fazer um mapeamento dos projetos e dos empreendedores do setor. "Queremos ir a campo captar 'equity' para alavancar os setores, é uma solução, tendo em vista que há uma redução da disponibilidade de crédito para esses investimentos", disse Juliana Vasconcelos, da Apex.

O cenário político e econômico conturbado foi um obstáculo no convencimento dos investidores, de acordo com Janousek. Foi por isso que decidiram pela opção com menores riscos.

Apesar disso, a estratégia de expansão da Canadian Solar em geração centralizada é "bastante agressiva", segundo Janousek. A companhia deve participar ao menos de um dos dois leilões de energia de reserva previstos para este ano. A aposta no Brasil leva em conta o plano de expansão da fonte solar do governo, que prevê a contratação de ao menos 1 gigawatt (GW) de energia por ano.

"Acho que estamos tentando pegar uma certa carona no que aconteceu com a energia eólica no país, que teve um momento muito positivo, mas foi ajudada por uma combinação de fatores. O momento era outro, não conseguimos reproduzir as condições agora", disse o executivo da Canadian Solar.

Segundo ele, esse é um "bom exemplo" de desenvolvimento de uma cadeia produtiva. No setor de energia solar, os leilões precisam ser mantidos para trazer segurança para os investidores. Além disso, é necessário aprimorar as regras e aumentar os incentivos, especialmente no caso de geração distribuída, que é outro foco de interesse da companhia.

"A Canadian acompanha a evolução e as perspectivas do mercado para o país", disse. Se as projeções de crescimento se confirmarem no médio prazo e houver uma política de incentivos para o setor, os investimentos na fabricação local podem ser maiores. "É o que falta para a Canadian e outros fabricantes tomarem a decisão", disse ele.

As regras de financiamento também precisam de um aprimoramento. "Hoje vemos o BNDES, um banco de investimentos, determinando regras de conteúdo local que deveriam ser definidas pelo governo", disse. Segundo Janousek, quem tiver outra possibilidade de financiamento com dinheiro externo não vai se mover para atender essas regras de conteúdo local.

Para a Flextronics, o contrato não é uma novidade. A companhia, que é especializada na fabricação de produtos para terceiros, já produz painéis solares em unidades internacionais. No Brasil, esse será a primeira vez com um produto voltado para esse segmento, de acordo com Nelson Falcão, porta-voz da companhia.

O projeto de ampliação da fábrica de Sorocaba vai gerar 400 empregos diretos e 1500 indiretos, com capacidade anual de produção de 350 MW de painéis. O início da operação está previsto para setembro. Segundo Janousek, os projetos da companhia têm demanda para a produção nos próximos anos, mas a possibilidade de fornecimento de painéis para outros não está descartada.


Fonte: Valor Econômico
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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