MTEC Energia

CEB sai do vermelho

Presidente da CEB, Ari Joaquim da Silva




Em 2015, a fatura da energia elétrica impactou o bolso do consumidor brasiliense — em 12 meses, o reajuste da Companhia Energética de Brasília (CEB) acumulou 73,74%, índice sem o cálculo das bandeiras tarifárias. Os aumentos, somados às medidas de saneamento cirúrgicas (como limite de valor de gasto por celular funcional, corte de plano de saúde de aposentados) conseguiram tirar a companhia do vermelho. Depois de anos consecutivos negativos, o balanço da empresa mostra lucro de R$ 88 milhões. Com isso, a promessa, é de um 2016 com menos reajustes. O comunicado do índice será feito em outubro.

O capital comprometido com terceiros ainda é alto (87,3%), mas 10% inferior ao apresentado no ano passado. Dos R$ 360 milhões em dívidas registrados em 2015, restam R$ 200 milhões a serem pagos. Com a estrutura financeira menos sucateada do que em exercícios anteriores, o desafio da CEB é melhorar o serviço oferecido e cumprir as metas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em entrevista exclusiva ao Correio, o presidente da empresa, Ari Joaquim da Silva, conta como conseguiu diminuir as dívidas, critica os parâmetros severos da Aneel e diz que a companhia sentiu na pele a crise política e econômica brasileira.

A CEB fechou 2015 com saldo positivo. O reajuste de mais de 70% no ano passado e a permanência da bandeira vermelha ajudaram? Ou o senhor credita mais às medidas saneadoras implantadas?
O saldo positivo está mais relacionado às medidas saneadoras. O dinheiro de todas as medidas que vieram — bandeiras, e mesmo o reajuste extraordinário em março — não ficou na companhia. Os recursos vindos dos aumentos são para resolver o problema do setor energético como um todo. O dinheiro de tarifa que entra na companhia é o do reajuste que começou em agosto — aqueles 18,6% é o aumento que a companhia usufruiu. Todos os outros, a companhia era um veículo para acompanhar o dinheiro e transferir para o governo federal para sanear a questão nacional.

O assunto do momento são as crises institucional, política e econômica que o país vive. De alguma forma, isso chegou à CEB?
Isso atinge todas as empresas. Quando você tem uma instabilidade como essa, da falta de confiança, os investidores não investem, o consumidor não compra e a economia para. Nós da CEB, por exemplo, não conseguimos tirar a segunda parte do empréstimo que nos foi autorizado. Dois fatores impediram a segunda parte do empréstimo: o período que ficamos sem concessão — ela venceu em julho e só foi renovada em novembro. Depois disso, quando tínhamos concessão, a economia estava parada. Aí os bancos retraíram e nós não conseguimos pegar o empréstimo. Outra questão foi a queda no consumo de energia elétrica. No Centro-Oeste, caiu 3,2%. Na CEB, a retração foi de 1,3%. Isso porque aumentamos o número de consumidores em 3,2%, com novas residências e novos bairros, o que compensou.

No caso do empréstimo, a primeira parte foi de R$ 130 milhões. Quanto seria a segunda?
Tinha potencial para chegar a R$ 300 milhões.

Vocês pretendem pedir novos empréstimos?
Não esse valor todo. Uma coisa importante: em 2015, tínhamos um deficit no fluxo de caixa mensal grande. Agora, a partir de abril, a gente não tem mais deficit no fluxo de caixa. Com isso, a CEB começa a diminuir a sua dívida. Como a gente tinha fluxo de caixa, todo mês, a gente aumentava o saldo da dívida, porque tem deficit crônico. Quando eliminamos o deficit crônico, vamos diminuindo a dívida daqui pra frente. Sabe o que é começar com R$ 30 milhões de deficit e zerá-lo? Foi um esforço hercúleo.

Para 2016, diante da melhoria financeira da empresa, o consumidor terá reajuste menor do que os praticados nos últimos anos?
Com certeza. O reajuste vai ser menor que dos anos anteriores. Deve acompanhar o índice inflacionário, com variações pra cima ou pra baixo. A inflação de 2015 foi de 10%; em 2016, ela deve ser menor.

No ano passado, a CEB foi obrigada a entregar um plano de qualidade para a Aneel e, por enquanto, a companhia continua mal classificada no ranking da agência. Vocês estão conseguindo cumprir o plano?
Nós estamos cumprindo todas as metas estabelecidas pelo plano de resultados com a Aneel. A Aneel hoje tem uma imagem da CEB muito diferente da que tinha no passado. Inclusive, em um pronunciamento de um diretor, ele citou a CEB como exemplo de empresa estatal que, ao mudar a administração, teve sucesso. Quando você fala no plano de resultado, ele tem três componentes principais: a questão econômico-financeira, a qualidade e o atendimento. A Aneel disse que, se chamasse as empresas para fazer um novo plano de resultados, o desempenho da CEB a tiraria do grupo de empresas que tinha que apresentar um plano de resultados. A CEB não estaria mais entre as 16 piores. Quando você coloca os três indicadores que eu falei, a CEB saiu da posição 10 para a 21.

Mas quando a análise é qualidade de serviço, ela ainda continua em 30ª…
Continua na mesma posição. Ela não piorou nem melhorou. Tivemos uma greve no fim do ano e seguramos os índices; por isso, a melhora foi pequena. Mas os nossos indicadores já melhoraram bastante em 2016. Você não muda um indicador desse de um dia para o outro. Entre dezembro de 2015 e março deste ano, tivemos 1h45 de redução de interrupção do serviço. Uma coisa extraordinária. Esse ganho nos últimos quatro meses mostra que as ações que foram feitas começaram a surtir efeito.

Em 2015, o senhor disse que a CEB passava por uma crise severa. Como melhorar indicadores sem dinheiro para investimentos em infraestrutura?
Mesmo com todas as dificuldades financeiras, investimos perto de R$ 80 milhões (R$ 77,8 milhões). Embora a progressão dos indicadores da Aneel tenha sido pequena, a CEB começou o ano de uma forma e terminou de uma outra muito diferente e melhor. Entre 2014 e 2015, você tem uma outra companhia: uma empresa que tinha um prejuízo de R$ 150 milhões e terminou com lucro de R$ 88 milhões.

Com a casa arrumada em relação às finanças, o foco será na qualidade?
Com toda certeza. No ano de 2016, estamos atuando no saneamento financeiro, isso é permanente. E, agora, vamos ter recursos para investir mais na planta, na rede de energia elétrica e, com isso, vamos ter, como consequência, a melhoria da qualidade do serviço.

A CEB tem chances de sair da 30ª posição entre as piores distribuidoras pelo ranking da Aneel?
Os indicadores da Aneel variam entre localidades; em algumas, a tolerância é muito maior. Eu acho que é uma forma muito injusta de fazer essa medição. Compara coisas desiguais. Uma empresa não é feita de um segmento, a empresa é o conjunto. O carro anda sem o câmbio funcionando? Se eu olho isoladamente, posso tirar uma conclusão errada da empresa. Tem que olhar a globalidade. Não posso olhar uma árvore, tenho que olhar a floresta. Além disso, o indicador da CEB é medido em março, no momento crítico, das chuvas. Em outras empresas, não é no momento crítico.

A dívida da CEB é de R$ 360 milhões. Conseguiram diminuir esse número?
Reduzimos. Está na ordem de R$ 200 milhões. Saneamos a companhia, fizemos investimentos e ainda reduzimos a dívida.

No ano passado, a Câmara Legislativa autorizou a CEB a vender as suas participações em empresas de geração de energia. Em que pé está?
Neste momento, estamos preparando a documentação para fazer o processo de venda.

Já tem um produto que deve ser vendido primeiro?
Geralmente, é feito assim: você contrata uma instituição financeira especializada nesse tipo de processo para ela fazer uma avaliação dos ativos. Depois, eles podem ser colocados a venda. Estamos na fase de avaliação dos ativos.

Qual será o prazo final para concretizar a venda de ativos?
Nosso objetivo é até setembro.

Quanto a CEB vai arrecadar com essa venda?
O que a gente disse na Câmara dos Deputados é que o valor está sendo calculado. Mas a gente imagina que o valor será, no mínimo, R$ 500 milhões.

Se vocês têm uma dívida de R$ 200 milhões e vão receber R$ 500 milhões, devem usar o restante para investimentos e melhoria da companhia?
Temos dois objetivos com esse dinheiro. O primeiro é pagar as dívidas reconhecidas e reduzir o passivo da companhia. Vamos dar prioridade para as dívidas caras, de juros elevados. Em segundo, vamos fazer os investimentos necessários para melhorar ainda mais o serviço e, evidentemente, quitar cotas vencidas.

A venda será de toda parte de geração da CEB?
Sim. Vamos vender, por exemplo, Lajeado, Corumbá III, Corumbá IV.

A Celg vendeu geração e teve muitos problemas seguintes: a companhia se endividou, os parâmetros de qualidade caíram... A CEB tem essa preocupação?
Não. A ideia desse dinheiro é para capitalizar a CEB Distribuição.

Fonte: Correio Braziliense
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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