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Tarifas mais elevadas aumentam preocupação com furtos de energia



Perdas comerciais em 2014 foram equivalentes ao consumo residencial de toda a região Nordeste 


O aumento expressivo das tarifas de energia ao longo deste ano tem elevado a preocupação das distribuidoras não só com o risco de alta do índice de inadimplência, mas com outro fator: o crescimento de casos de furtos e fraudes de energia. De acordo com dados da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), o índice de perdas comerciais (furto e fraude) de energia do país em 2014 foi de 5,63%. Considerando dados de mercado da Empresa de Pesquisa de Energia (EPE), esse percentual equivale a cerca de 26 mil gigawatts-hora ao ano (GWh/ano), ou o equivalente ao consumo de energia de todas as residências do Nordeste.

De olho nesse problema, as distribuidoras de energia estão investindo em novas tecnologias, como "smart grid" (rede inteligente) e no reforço das equipes para combater as ligações clandestinas. A Light, companhia que fornece energia para a região metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, prevê investir R$ 2 bilhões no combate ao furto de energia até 2018.

"As perdas comerciais equivalem a um prejuízo de R$ 2 bilhões por ano. É um valor significativo, que, se conseguirmos resgatar, vai melhorar muito o resultado da empresa e para nossos consumidores", afirmou o diretor de Distribuição da Light, Ricardo Rocha. Segundo ele, o furto de energia no Rio de Janeiro onera em 17% a conta de luz dos clientes regularizados da empresa. "Os clientes que pagam acabam pagando também pelos que não pagam", completou o executivo.

Com relação à tecnologia, a rede inteligente permite à distribuidora detectar variações significativas no consumo dos clientes, indicando onde pode estar ocorrendo o furto de energia. Nessa linha, a Light já instalou 709 mil medidores eletrônicos em residências e prevê alcançar a marca de 1,5 milhão, nos próximos cinco anos. O investimento total no projeto é de R$ 1 bilhão.

Em relação ao mercado de baixa tensão faturado (residências, comércio e pequenas indústrias), as perdas comerciais da Light alcançam 39,63%, o equivalente ao consumo residencial do Espírito Santo. A meta da empresa é reduzir o índice de perdas, nesse cálculo, para 30% até 2018.

Outro aspecto interessante observado pela Light é que o furto de energia não é algo específico de comunidades de baixa renda. A empresa tem encontrado ligações irregulares de energia em estabelecimentos comerciais e em condomínios residenciais de classe média e alta. Nessas localidades, também foram colocados medidores eletrônicos para detectar variações do consumo e possíveis furtos de energia.

O mesmo fato também foi apurado pela Amazonas Energia, subsidiária do grupo Eletrobras. "Nosso trabalho de inteligência e de campo não é focado apenas na população de baixa renda. Atuamos na cidade e no Estado como um todo, porque, infelizmente, o furto de energia é um problema que perpassa a condição econômica", disse a diretora Comercial da Amazonas Energia, Andressa Noronha.

Com relação às áreas mais críticas, a distribuidora vai iniciar até o fim do ano a regularização das ligações elétricas de cerca de 40 mil clientes do Amazonas, em um projeto de R$ 75 milhões, financiado com recursos do Banco Mundial.

Algumas empresas, que atuam em áreas menos complexas, têm conseguido êxito em suas ações. É o caso da AES Eletropaulo, que obteve redução do índice de perdas não-técnicas de 3,7% para 3,3%, entre o segundo trimestre do ano passado e igual período de 2015.

Segundo a companhia, a melhoria foi devido a intensificação das ações de controle e redução das perdas comerciais, para mitigar os impactos provocados pelos aumentos das tarifas pelo cenário econômico do país. As tarifas da distribuidora para o cliente residencial aumentaram 75%, em média, de janeiro a junho.

Entre as ações adotadas pela companhia para mitigar o problema estão inspeções de fraude, programa de recuperação de instalações cortadas, regularização de ligações clandestinas, instalação de medidores com telemetria em unidades consumidoras em média tensão.

A companhia também atua com feirões de negociação das dívidas, a fim de minimizar a inadimplência dos consumidores. Entre janeiro e junho, foram realizados nove feirões.

A Energias do Brasil também observou redução nas perdas não técnicas da EDP Escelsa, que atua no Espírito Santo. No terceiro trimestre, houve queda de 0,03 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Na mesma comparação, porém, o indicador aumentou 0,04 ponto percentual na área da EDP Bandeirante, em São Paulo.

Em teleconferência com analistas, o presidente da companhia, Miguel Setas, contou que, no contexto de aumento de tarifas, os níveis de provisão de devedores duvidosos (PDD) e inadimplência cresceram, mas a empresa está implementando medidas para mitigar esses efeitos.

"A mensagem principal é que a situação está agravada devido aos últimos reajustes, mas conseguimos manter nossa operação em parâmetros relativamente normais", explicou o executivo.

Apesar das condições mais desafiadoras do mercado de energia elétrica este ano, as perdas comerciais das distribuidoras do grupo CPFL Energia estão em linha com o seu nível histórico, girando em torno de 1,5% a 2,5% Segundo a companhia, as perdas comerciais das concessionárias estão dentro dos níveis reconhecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nas tarifas de energia.


Fonte: Valor Econômico
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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