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A conta do atraso

As 1640 obras de infraestrutura analisadas por EXAME vão custar 1,2 trilhão de reais


A EDIÇÃO DE 2015 DO ANUÁRIO EXAME DE INFRAESTRUTURA analisou um total de 1640 obras e projetos no Brasil nas áreas de combustíveis, energia elétrica, saneamento, telecomunicações, transportes e infraestrutura social. Juntos, esses empreendimentos vão exigir investimentos de 1,2 trilhão de reais. Mas, para que eles se tornem realidade, é preciso apertar o passo. Entre os 100 maiores empreendimentos da edição do ano passado, 28 encontravam-se, na época, em fase de projeto. Um ano se passou e, de lá para cá, desses 28 projetos, apenas cinco começaram a ser executados - os outros 23 permanecem somente no papel. Além disso, muitas obras iniciadas avançaram pouco (veja abaixo alguns exemplos). Para piorar, duas obras que estavam entre as dez mais caras do país - as refinarias Premium 1 e 2, ambas localizadas na Região Nordeste - foram canceladas. Sem conseguir atrair sócios para dividir os investimentos, a estatal Petrobras desistiu de construir as duas refinarias - um fiasco que causou um prejuízo de 2,7 bilhões de reais.

A LISTA DE OBRAS

A lista das 1 640 obras monitoradas pelo Anuário EXAME de Infraestrutura está disponível no portal EXAME.com. A lista apresenta dados como valor do orçamento, quanto falta investir, estágio atual, datas previstas de início e conclusão, empecilhos e grau de execução. As obras e os projetos estão divididos por setores e por estados. Confira no seguinte link:

exame.abril.com.br/revista-exame/ infraestrutura/2015/obras



PROBLEMAS QUE VÊM DO BERÇO

Um dos maiores entraves para a execução de obras de infraestrutura no Brasil vem do berço: projetos mal elaborados. Sem um detalhamento adequado desde sua concepção, muitos empreendimentos nascem condenados a passar por uma série de percalços no caminho. Um indício de falhas nos projetos é o número expressivo de empreendimentos que sofrem alteração no valor do investimento: um em cada cinco projetos sofre uma revisão do orçamento. Outro sintoma do problema é que 16% das obras têm seu prazo de conclusão dilatado por empecilhos ambientais, legais, técnicos ou de outra natureza. Do total de 1640 empreendimentos analisados neste ano, 29% têm algum obstáculo para sua execução. É um índice significativo e, possivelmente, a realidade é pior do que isso - a maioria das empresas responsáveis pelas obras tende a não fazer publicidade dos problemas que enfrentam.




MUITO CHÃO A PERCORRER

DO ORÇAMENTO TOTAL DE 1,2 TRILHÃO de reais previsto para a execução dos 1640 projetos e obras incluídos na lista deste ano, a maior parte do valor (72%) ainda precisa ser desembolsada. É um mau sinal, já que o governo e estatais como Petrobras e Eletrobras, responsáveis por alguns dos maiores empreendimentos, estão sem caixa para realizar grandes investimentos. É mais um motivo para o governo acelerar o programa de concessões, buscando atrair uma participação maior da iniciativa privada, incluindo investidores estrangeiros. O setor de transportes é o que exigirá maior volume de recursos - representa quase 40% do orçamento total da lista deste ano.


CAROS E COMPLEXOS

MESMO NUMA LISTA DE MAIORES OBRAS, algumas se destacam por sua grandiosidade. Juntos, os cinco empreendimentos que vão exigir mais investimentos para sua conclusão somam quase 138 bilhões de reais (veja quadro ao lado). A magnitude desses números é um reflexo das carências do Brasil - é como se o país tentasse resolver, em uma só tacada, os gargalos criados por anos e anos de investimentos insuficientes na área. Mas obras grandiosas são também mais difíceis de tirar do papel, porque exigem uma complicada engenharia financeira. Não por acaso, dos cinco empreendimentos mais caros do país, quatro ainda estão em fase de projeto (a Ferrovia Bioceânica, o trem de alta velocidade, a hidrelétrica São Luiz do Tapajós e a plataforma de petróleo P-73). Apenas um deles está andando: a expansão da Estrada de Ferro Carajás - o único da lista realizado com recursos privados.



CONCENTRAÇÃO DE INVESTIMENTOS

DE CADA 100 REAIS EM INVESTIMENTOS previstos na lista de obras deste ano, 25 têm como destino os dois estados mais ricos do país. Juntos, Rio de Janeiro e São Paulo concentram obras orçadas em 304 bilhões de reais. O Rio de Janeiro ocupa novamente o topo da lista graças, sobretudo, aos empreendimentos no setor de petróleo e gás, além de várias obras relacionadas aos Jogos Olímpicos de 2016. Um ponto de atenção é como a crise na Petrobras vai repercutir no andamento das obras - a estatal é responsável por pouco mais da metade dos investimentos em infraestrutura previstos para o Rio de Janeiro nos próximos anos. Nesse aspecto, a situação dos pau listas é mais confortável. As obras no estado de São Paulo distribuem-se de forma diversificada por setores como transportes, saneamento, combustíveis e energia elétrica, sem uma forte dependência de uma única fonte de recursos.



Centro-Oeste

AO LONGO DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS, a Região Centro-Oeste dobrou sua produção de grãos - neste ano, a previsão é colher 88 milhões de toneladas, ou 42% da safra brasileira O espetacular crescimento ocorreu apesar das conhecidas deficiências de logística, que encarecem o escoamento da produção. Na lista do Anuário EXAME, o Centro-Oeste aparece como o destino de apenas 4% dos investimentos totais previstos nos próximos anos, ou 38 bilhões de reais. Uma boa parte disso deverá ir para transportes. O trecho da Ferrovia Norte-Sul que está sendo construído entre Ouro Verde, em Goiás, e Estrela D'Oeste, em São Paulo, com 682 quilômetros, é uma das obras que devem melhorar o escoamento da safra agrícola da região. A obra vai custar 4,8 bilhões de reais e deverá ser concluída em 2016.

Nordeste
A REGIÃO NORDESTE OCUPA UM PAPEL relevante no mapa de investimentos em infraestrutura do Brasil. Nos próximos anos, de acordo com um levantamento do Anuário EXAME, a região deverá receber algo em torno de 162 bilhões de reais - o correspondente a 16% do total do país. A região fica atrás apenas do Sudeste em volume de recursos previstos para obras. No setor de saneamento, o Nordeste é a região com a maior fatia de investimentos previstos, com quase 27 bilhões de reais, ou 44% do país. Entre as maiores obras nessa área estão a transposição do rio São Francisco (projeto que vai consumir 8,2 bilhões de reais para levar água a 12 milhões de habitantes do semiárido), o programa Cidade Saneada (parceria público-privada que pretende implantar sistema de esgotamento sanitário para atender 90% da região metropolitana de Recife, ao custo de 4,5 bilhões de reais) e a Adutora do Agreste (canal de 419 quilômetros para distribuir água a 68 municípios do agreste pernambucano, com um orçamento de 1,3 bilhão de reais).

Norte
COM UMA CARTEIRA DE PROJETOS e obras de 160 bilhões de reais, a Região Norte tem uma participação de 14% no total de investimentos previstos em infraestrutura nos próximos anos no Brasil. A região destaca-se principalmente no setor elétrico - as maiores usinas hidrelétricas em projeto ou em construção no país, como Belo Monte, São Luiz do Tapajós e Jatobá, estão por lá. O problema é que muitos desses empreendimentos enfrentam obstáculos ambientais para sua execução. Esses empecilhos afetam não somente as usinas geradoras mas também as linhas de transmissão. Um exemplo é a construção da linha elétrica entre Roraima e Amazonas, uma obra de quase 1 bilhão de reais que está emperrada - o projeto prevê que ela deve passar por uma reserva indígena, o que dificulta a obtenção de licença ambienta! Enquanto não se resolve a pendência, Roraima continuará dependendo de energia fornecida pela vizinha Venezuela - é o único estado brasileiro ainda fora do Sistema Interligado Nacional, que leva eletricidade a todo o país.

Sudeste
O SUDESTE CONCENTRA UM TERÇO dos investimentos em infraestrutura previstos para os próximos anos no Brasil, ou pouco mais de 400 bilhões de reais. Os destaques são os setores de transportes (a região representa 47% do orçamento total do país) e de combustíveis (43%). Os problemas são também gigantescos. O projeto mais caro da região, o trem de alta velocidade, foi adiado por tempo indeterminado e caminha para o esquecimento. A segunda obra mais cara da região, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, deveria ter sido inaugurada em 2012, mas ficou para 2016 - se não sofrer novo adiamento por causa das dificuldades financeiras da Petrobras. Vários outros empreendimentos de petróleo e gás vivem a mesma incerteza em relação a seu futuro.

Sul
OS TRÊS ESTADOS DA REGIÃO SUL PARTICIPAM da lista de obras deste ano com 452 empreendimentos, ou 28% do total no país, e um orçamento de
quase 87 bilhões de reais. Um dado preocupante é que alguns dos maiores empreendimentos da região ainda estão só no. papel. São os casos, por exemplo, dos projetos de construção do metrô em Curitiba e em Porto Alegre, orçados em 4,8 bilhões de reais cada um. Também está em fase de estudos a concessão de um lote formado pelas rodovias BR-476, 153, 282 e 480, importantes para o escoamento da produção de frango da região. A expectativa é que o lote seja leiloado ainda neste ano - os investimentos na ampliação, manutenção e exploração de 460 quilômetros de rodovias são estimados em 4,5 bilhões de reais.


Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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