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FIRJAN AMEAÇA FECHAR SENAI E SESI

'Vamos fechar Senai e Sesi, e o efeito político será gigantesco'

presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira - Foto: Brasil247

Após defender o apoio do empresariado ao governo federal, o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira agora critica as novas medidas do ajuste anunciadas pela equipe de Joaquim Levy; ele se revolta contra a previsão de corte de 30% em recursos para o Sistema S: “Concretamente, aqui no Rio, nós vamos fechar Sesi e Senai se isso prevalecer. Vai ter uma repercussão política gigantesca, pois chegará a 1 milhão de pessoas”

247 – Após liderar o apoio do empresariado ao governo federal, o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, agora endurece às críticas às novas medidas de ajuste da equipe de Joaquim Levy.

Ele questiona a falta de um programa de privatizações, reclama da proposta de aumento de impostos e da volta da CPMF, e se revolta contra a previsão de corte de 30% em recursos para o Sistema S:

“Concretamente, aqui no Rio, nós vamos fechar Sesi e Senai se isso prevalecer. Vai ter uma repercussão política gigantesca, pois chegará a 1 milhão de pessoas”, ameaça, em entrevista ao Valor.

Por outro lado, critica o golpismo contra o governo Dilma: “Temos que ir adiante. E o Executivo, trabalhar. Qualquer fato novo é outro problema”



Por Cristian Klein
Aline Massuca/Valor

Na primeira semana de agosto, partiu da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) a nota em defesa de uma união nacional, que representou um apoio do empresariado ao governo federal, num dos momentos mais críticos da crise político-econômica. Na volta do recesso do Congresso, a presidente Dilma Rousseff era acossada pelas articulações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e da aproximação, no Senado, de cardeais do PSDB e PMDB para deslanchar o impeachment. O texto assinado pelo presidente da entidade, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, - ao lado do presidente da congênere paulista, Fiesp, Paulo Skaf - atendia, como ele descreve, a "um grito de desespero" do vice-presidente da República Michel Temer e clamava pela responsabilidade dos atores políticos. Citava o risco da perda do grau de investimento pelo país.

O rebaixamento veio, o governo aprofundou o ajuste fiscal e agora a postura de Gouvêa Vieira é bem menos favorável à administração do PT. Em entrevista ao Valor, o dirigente da Firjan diz que o governo tem "ideologia do século 19"; critica a falta de um programa de privatização; reclama da ausência de diálogo; da proposta de aumento de impostos e recriação da CPMF; e revolta-se contra a previsão de corte de 30% em recursos para o Sistema S. "Concretamente, aqui no Rio, nós vamos fechar Senai e Sesi, se isso prevalecer. Vai ter uma repercussão política gigantesca, pois chegará a 1 milhão de pessoas", diz.

As medidas do governo - que pretende alocar o montante para cobrir o rombo da Previdência - atingem a contribuição compulsória feita por empresas ao Sesi e ao Senai que, no Estado do Rio, deve somar este ano R$ 800 milhões. Por determinação legal, o Sesi repassa à Firjan 7% dessa contribuição e o Senai, 1%. A seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: O que achou da proposta do governo?

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira: A sensação é que estamos realmente numa situação horrorosa porque até oficialização dos jogos de azar já foi proposta. O que é impressionante é que eles não falaram nada, nada sobre a venda de companhias, sobre privatização. Todas as empresas - sejam pequenas, médias ou grandes - quando têm problema de caixa, a primeira providência é saber o que eu tenho de ativo para que eu possa ter liquidez. Mas o governo é incapaz, por conta de uma ideologia do século 19, que não funcionou em país nenhum. Haja vista os países periféricos da Europa. Hoje aparentemente o governo já fala em mandar uma reforma da Previdência. Mas já deveria ter feito isso na semana passada! Antes da divulgação desse pacote. Temos um ministro da Fazenda que sabe muito bem que essa agenda é a correta, mas os companheiros de governo não conseguem entender isso. Ele vive uma situação muito complicada, posso imaginar a angústia interna. Conheço o Joaquim [Levy] muito bem, é uma pessoa capaz. Estava muito bem na iniciativa privada, e está lá por missão, por vocação pública. Mas não consegue entregar o que ele imaginava.

Valor: Mas o Congresso também não ajuda.

Gouvêa Vieira: O Congresso ajuda coisa alguma. Ainda prevalecem os interesses eleitorais. Cada um quer ver o pior para o outro lado, para se valorizar. Isso não condiz com o interesse do país. Essa questão é de responsabilidade da situação e da oposição. O problema é que não vemos as lideranças colocarem as coisas como elas devem ser. Eu achava que a presidente deveria ir ao Congresso, ela pessoalmente, fazer uma apresentação das contas públicas. Agora, também da parte do Executivo tem que haver uma abertura suficiente para se colocar todas as alternativas possíveis, por exemplo, a privatização, que neste governo é quase uma ofensa se falar sobre isso.

Valor: Privatizar é uma saída para a crise?

Gouvêa Vieira: Você traz recursos para ter tempo para fazer as reformas estruturais. Faz o choque de privatização e ao mesmo tempo reformas profundas na Previdência, medidas que impeçam ultrapassar as despesas correntes além da subida do PIB, que o salário mínimo flutue de acordo com inflação e PIB - e se o PIB for negativo, que seja inflação menos a queda do PIB. São coisas fundamentais para as contas públicas. Agora, essa meia-sola que foi anunciada é uma cata de recursos, como um desespero, que permite um parlamentar propor a regulamentação do jogo [em cassino e bingos], que no mundo todo é o que há de pior em termos de ambiente social. O Executivo precisa ter coragem, se colocar na camiseta de estadista. Não pode ter ideias preconcebidas e ideológicas do passado.

"Vamos mexer com mais de 1 milhão de pessoas, incluindo suas famílias. Essas pessoas vão para a rua"

Valor: O governo, por outro lado, adota medidas que vão contra a base social do PT, como o funcionalismo público.

Gouvêa Vieira: Não apenas os funcionários públicos, mas também o Sesi e Senai, que têm por obrigação atender ao trabalhador. Aqui no Rio, trabalhamos no osso os recursos do serviço social. Quando anunciam que vão tirar 30% mais a Lei do Bem, estão dizendo que querem fechar o Sesi e Senai. Onde as pessoas vão aprender e se qualificar? Estamos empurrando os jovens para a vala comum? Tirar da juventude alguma esperança que eles têm? No Rio, estamos transformando vidas em todas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o que o Estado não faz. Até agora não vi entendimento geral e político.

Valor: Como assim?

Gouvêa Vieira: Para esse pacote que foi lançado, vamos falar especificamente sobre o Sistema S, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, que foi presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que conhece profundamente Sesi e Senai, não foi ouvido. Isso é entendimento? A Fiesp e a Firjan não foram ouvidas - nós, que representamos 80% da indústria do Brasil. Pessoas que não têm a menor ideia do serviço social que se faz.

Valor: Quanto será perdido com os cortes?

Gouvêa Vieira: Eles anunciaram 30%, mas no Senai tem mais 20%, segundo nosso cálculo, por causa da Lei do Bem. Concretamente, aqui no Rio, nós vamos fechar Senai e Sesi. Não tem menor dúvida. Nós vamos fazer, se isso prevalecer. Porque eu, como pessoa física, sou responsável pelas contas dessas organizações. E eu não vou colocar o meu patrimônio em risco. Não há a menor possibilidade. Agora, é uma injustiça brutal. E evidentemente isso vai ter uma repercussão política gigantesca. Temos mais de 500 pontos de atendimento só no Estado do Rio. Atendemos mais de 500 mil pessoas por mês em nossos ambulatórios no programa de saúde do trabalho. Vamos mexer com mais de 1 milhão de pessoas, incluindo as famílias das pessoas atendidas por nós. Essas pessoas vão para a rua. E aí eu reforço que desde que soltamos nota [na segunda, 14, criticando os cortes] o diálogo não existe. Há uma revolta nacional dos administradores do Sesi e Senai. Minha indignação é pela forma de se fazer e porque é inconstitucional.

Valor: Qual é a sua posição sobre a possibilidade de impeachment?

Gouvêa Vieira: Tenho nada a ver com isso. Não sou advogado, não conheço as contas que o Tribunal de Contas da União (TCU) está analisando, não tenho a menor ideia no que o Tribunal Superior Eleitoral (TCE) está trabalhando. Estou advogando a robustez das nossas instituições. Temos que ir adiante. Com as coisas que estão aí na mesa. Qualquer fato novo é outro problema. Hoje temos o Executivo, que está lá, empoderado pelo poder democrático, e ele tem que trabalhar. Não somos contra ou a favor partido A, B ou C. Não somos oposição ou situação. Nosso partido é o Brasil. Os políticos têm uma obrigação perante a população porque pediram o voto dela para entregar um país melhor.

Valor: Mas há a luta política. O PSDB, por exemplo, votou contra o fator previdenciário, que o próprio partido criou nos anos FHC.
Gouvêa Vieira: Isso é uma vergonha. Quando faço as críticas, faço para todos os políticos. Não tem cabimento o PSDB votar a favor de algo que ele sabe que é errado.

Valor: O PSDB deve apoiar estas novas medidas do governo?

Gouvêa Vieira: Não falei com o presidente do PSDB sobre isso, não tenho a menor ideia. Mas tenho a impressão de que a discussão que vai ocorrer no Congresso é se esse ajuste é estruturante ou não. Porque, às vezes, é na crise que se resolvem as coisas de uma forma definitiva. É a hora de passarmos a limpo o Estado brasileiro. E aí precisa do estadista para tocar essa manada. O Brasil vai se encontrar com essa agenda, se vai ser agora, daqui a dois anos ou dez... mas por que não agora?
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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