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Brasileiras superam estrangeiras

Bernardo, CEO no Brasil: "Em cada mercado, o contexto regulatório influencia, mas aqui há empresas bem gerenciadas"
Bernardo, CEO no Brasil:
"Em cada mercado, o contexto regulatório influencia, mas aqui há empresas bem gerenciadas"

Apesar de enfrentarem uma queda de rentabilidade nos últimos anos, as empresas brasileiras de energia elétrica têm um bom desempenho quando comparadas a seus pares estrangeiros. As elétricas nacionais respondem pela maior parte de um seleto grupo de 20% de empresas que tiveram retorno sobre capital investido e crescimento da receita duas vezes superior à média mundial de 2011 e 2014, mostra um estudo elaborado pela consultoria Roland Berger e obtido com exclusividade pelo Valor.

Das 24 empresas que compõem esse grupo, 12 são brasileiras: Equatorial, Energisa, Neoenergia, Celesc, CPFL, EDP Brasil, Light, Duke Paranapanema, Cemig, Endesa Brasil, Elektro e Tractebel. Essas elétricas estão ao lado de gigantes mundiais, como a alemã E.On, a italiana Enen Green Power e a China Three Gorges.

Para Antônio Bernardo, presidente da Roland Berger Brasil, as taxas de juros elevadas do país favorecem esse perfil, na medida em que eleva os retornos exigidos por quem investe e, consequentemente, o valor da tarifa de energia ao consumidor.

A regulação brasileira também têm sua contribuição, uma vez que é "inclusiva", afirma o sócio da consultoria, Jorge da Costa. "O sistema brasileiro não prima necessariamente pela busca da eficiência, visa garantir que haja produção de energia. Se a empresa for eficiente e numa condição regulatória que é mais frouxa nesse sentido, é possível obter ganhos anormais", ressalta.

O contexto macroeconômico e regulatório, no entanto, explica apenas parte do fenômeno, garante Bernardo. "Em cada mercado, o contexto regulatório influencia, mas a conclusão é que, no Brasil você tem empresas muito bem gerenciadas e com boas estratégias, que trazem resultados superiores na média mundial", explica.

No estudo, a consultoria buscou explicar os principais fatores que influenciaram o desempenho das empresas nacionais mais bem posicionadas no ranking. Com base em um conjunto de entrevistas com a alta gerência, a Roland Berger identificou que, em todas elas, havia uma postura voltada para criação de valor, com definição de metas objetivas que vão além da diretoria e chegam aos menores níveis na hierarquia.

Outro ponto identificado pela consultoria é a postura dinâmica em relação aos negócios. Os próprios solavancos e mudanças de direção na regulação ajudam a moldar a postura mais "plástica" das elétricas brasileiras. "O presidente de uma grande empresa internacional ficou muito surpreendido com a capacidade que as empresas por aqui têm de se adaptar a novas mudanças regulatórias e no próprio portfólio de negócios", disse Bernardo.

A postura regulatória "pró-ativa" também é um diferencial, aponta a consultoria. O primeiro passo para isso é a contribuição para a construção de regras e da legislação. "A legislação é feita de forma inclusiva. O regulador quer ouvir", aponta o consultor Ricardo Pinto, que participou do estudo. Além disso, as empresas que apresentaram o melhor desempenho conseguem extrair valor a partir das regras.
É o caso da Equatorial Energia, por exemplo, que tem como seu negócio principal a compra de distribuidoras ineficientes e mudança dos processos para conseguir extrair rentabilidade dentro da estrutura tarifária proposta pela Aneel, diz ele.

A busca pela otimização de custos e investimentos é mais um fator que diferencia as elétricas locais que apresentaram maior crescimento e retorno. "A regulação não exige esse nível de eficiência, então é uma disciplina que tem que ser autoimposta", diz Castro.

A gestão dos grandes projetos é o principal entrave. Segundo levantamento da consultoria, os principais empreendimentos do setor tem atraso médio de um ano e meio, com desvios de orçamento da ordem de 40%. "Saber gerir bem esses projetos é um grande diferencial", ressalta ele.

Apesar da boa posição relativa das empresas nacionais, o estudo da Roland Berger mostra uma redução brusca no patamar de rentabilidade desde 2012, quando foi lançada a Medida Provisória (MP) 579, que visava reduzir a tarifa para os consumidores.

Nos cálculos da consultoria, o retorno médio sobre capital investido caiu de 8,8% em 2010 para 3,9% no ano passado, deixando o Brasil em último lugar no mundo, atrás da Europa e Estados Unidos, mercados mais maduros e com taxas de juros muito menores.

Os cálculos mostram ainda que a Eletrobras é a empresa com a pior desempenho em termos de crescimento de receita e retorno de toda a amostra, de 120 empresas. As hidrelétricas da estatal federal foram praticamente as únicas que aceitaram renovar suas concessões mediante um corte de mais de 70% nas tarifas.

"Além de ter reduzido as receitas, a MP trouxe imprevisibilidade regulatória. O cenário não é mais tão favorável", aponta Bernardo.

Segundo ele, a postura de "realismo tarifário" do governo pode inverter o processo, mas o setor ainda terá que lidar com questões relevantes, com destaque para os desafios para o financiamento dos projetos, em meio à escassez de crédito subsidiado e ao aumento do custo de capital.

Fonte: Valor Econômico
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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