MTEC Energia

Em dívida com o planeta

Humanidade já ultrapassou capacidade de regeneração e de geração de recursos do ano


futuro da terra e dos seres humanos é só destruição

A Humanidade está em dívida com a Terra desde ontem. De acordo com estimativas que levam em conta as emissões de carbono e o uso de recursos naturais, isto é, nossa pegada ecológica, comparados com a capacidade do planeta de absorvêlas, gerá- los ou regenerá- los ao longo de um ano, ou seja, sua biocapacidade, este 13 de agosto marcou a data em que ultrapassamos este limite em 2015. Isto significa que seria preciso cerca de 1,6 planeta para suprir apenas a demanda humana pelos chamados serviços ecossistêmicos globais, sem considerar as necessidades dos outros animais e seres vivos que também o habitam.

Conhecida como Dia de Sobrecarga da Terra, a data é calculada pela Global Footprint Network ( GFN) em parceria com diversas outras organizações internacionais ligadas à sustentabilidade e à defesa do meio ambiente e está chegando cada vez mais cedo desde que a Humanidade passou a exigir mais do planeta do que ele pode suportar, no fim dos anos 1960. Enquanto em 1970, o dia caía um pouco antes do Natal, em 23 de dezembro; em 1990, esse limite foi alcançado já em 13 de outubro; e, em 2010, avançou para 28 de agosto.

- Só a pegada de carbono da Humanidade mais que dobrou desde o início dos anos 1970, quando o mundo entrou em sobrecarga ecológica - destaca Mathis Wackernagel, presidente da GFN e cocriador do método usado para calcular a demanda humana sobre o planeta. - Ela continua sendo o componente que mais cresce nesta cada vez maior lacuna entre a nossa pegada ecológica e a biocapacidade da Terra.

PADRÕES INSUSTENTÁVEIS E DESPERDÍCIO

Segundo os especialistas, por trás desse fenômeno estão os padrões insustentáveis de produção e consumo de nossa sociedade, somados aos altos níveis de desperdício e desigualdade, cuja redução poderia ajudar pelo menos em parte a diminuir o problema. No caso da água, por exemplo, as perdas em algumas cidades brasileiras passam da metade do volume captado, enquanto a quantidade de comida que vai parar no lixo bate na casa dos 30% na média mundial, lembra Carlos Rittl, secretário- executivo do Observatório do Clima, rede que reúne 37 organizações da sociedade civil com o objetivo de discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro.

- Usamos os recursos naturais da Terra como se eles fossem infinitos e esquecemos que o planeta é finito - diz Rittl. - Precisamos nos dar conta disso, como mostra a atual crise hídrica no Sudeste, que deverá se agravar ainda mais. Temos que ser mais eficientes em tudo, produzir alimentos de forma mais sustentável, gerar mais energia de fontes renováveis e parar de destruir os ecossistemas da Terra. A continuar neste ritmo de degradação, o planeta simplesmente não vai aguentar mais, e quem vai sofrer somos nós.

Opinião parecida tem Henrique Lian, superintendente de Políticas Públicas e Relações Externas da WWF- Brasil, braço nacional de uma das organizações parceiras da GFN na elaboração dos cálculos e divulgação do Dia de Sobrecarga da Terra.

- É uma equação que leva em conta o tamanho da população do planeta e nossos padrões de produção e consumo - explica. - Nosso modo de produção de energia, baseado principalmente em combustíveis fósseis, por exemplo, talvez fosse razoável para um planeta com um bilhão ou dois bilhões de pessoas, mas certamente é insustentável para sete bilhões. E não estou fazendo um libelo contra o petróleo, um bem finito e importante, com moléculas cuja manipulação sutil pode ser muito útil e ter uso muito nobres. Mas queimar petróleo para mover um carro ou gerar energia é o mesmo que usar uma barra de ouro como peso de papel ou para segurar uma porta.

DECISÃO NAS MÃOS DO CONSUMIDOR

Assim, para os especialistas, a sobrecarga sobre a Terra só terá fim se houver uma mudança de postura geral de governos, empresas e das próprias pessoas no seu dia a dia, tanto individualmente, como consumidores, quanto coletivamente, como sociedade.

- Os governos devem, por exemplo, implementar políticas que incentivem a chamada economia verde, de baixa emissão de carbono, enquanto as empresas precisam buscar não só práticas mais eficientes e sustentáveis, como diminuir o consumo de água e energia. É importante também priorizar, por exemplo, os fornecedores mais próximos, o que diminui os custos tanto econômicos quanto ecológicos com logística - diz Lian. - Mas é o consumidor final quem tem um grande poder de decisão e influência nisso tudo. São suas escolhas que fazem a diferença, como entre abastecer o carro com etanol, um combustível renovável, ou com gasolina, não renovável. O consumo consciente pode parecer mais caro num primeiro momento, mas, na verdade, é extremamente benéfico a médio e longo prazos, gerando ganhos de escala que acabam por tornar mais barato um produto mais sustentável do que era seu equivalente insustentável anterior.

E é neste ponto que a redução do desperdício e das diferenças regionais ganha um peso ainda maior. No caso do Brasil, por exemplo, a pegada ecológica do país indica que seria necessária 1,9 Terra para sustentá-lo, acima da média global. Mas se todos os brasileiros consumissem como um paulistano, seriam precisos 2,5 planetas, enquanto se fôssemos todos como os moradores de Rio Branco, capital do Acre, esta necessidade cairia para 1,3 Terra.

- A Humanidade inteira não pode consumir como um nova- iorquino, mas também não temos como impedir que as pessoas consumam o que precisam para viver e serem felizes - considera Lian. - O mundo se desenvolveu em cima de um modelo emissor de carbono e insustentável, mas não podemos virar para um indiano ou um chinês e dizer: "Desculpe, mas agora, que chegou sua vez, não dá mais". Precisamos é achar um equilíbrio para essas demandas.

E a saída para isso, claro, não está em apenas produzir mais para atender aos anseios de consumo de todos, o que elevaria ainda mais a pressão sobre a já sobrecarregada biocapacidade da Terra, destaca Rittl, lembrando que ainda hoje mais de um bilhão de pessoas em todo mundo não têm acesso a água e/ ou comida para sobreviverem de forma adequada.

- É menos uma questão de aumento da produção do que de consumo equilibrado e melhoria de distribuição para diminuir perdas, desperdícios e desequilíbrios - conclui.

Fonte: O Globo 
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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