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Indústria 4.0 vai usar menos energia



Um nível de automação industrial sem precedentes deu origem às chamadas fábricas escuras em países como Holanda e Japão: plantas industriais que operam praticamente no escuro, com robôs e alguns poucos profissionais humanos para comandar as máquinas. Essa realidade traduz o conceito da indústria 4.0, também conhecida como quarta revolução industrial. Nela, a convergência entre a tecnologia operacional (meios físicos de produção) e a tecnologia da informação resulta em um novo modo de produção que já está em curso e que deve transformar radicalmente a produção de bens de consumo, os empregos e o uso dos recursos naturais nos próximos anos.

A aposta é de Jeffrey Carbeck, especialista da área de inovação da consultoria Deloitte, que proferiu uma palestra sobre o tema na Conferência Ethos 2016. Segundo Carbeck, que também é consultor do Fórum Econômico Mundial, a indústria 4.0 vai impactar positivamente os três pilares do conceito de sustentabilidade (econômico, ambiental e social).

Como podemos definir a indústria 4.0 e como surgiu o conceito?

Jeffrey Carbeck: O termo surgiu pela primeira vez em 2011, pela GTAI, a agência do governo alemão para comércio e investimento, quando foi desenhado um projeto de estratégias para o país na área de tecnologia. A base do conceito são os sistemas ciber-físicos, ou seja, a tecnologia que faz a conexão entre o mundo físico e digital nas fábricas. Na definição da Deloitte, é uma integração entre a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e tecnologias como robótica, análise de big data, computação de alto desempenho, materiais avançados e realidade aumentada.

O que diferencia uma fábrica automatizada de uma "inteligente"?

Carbeck: O fundamento básico da indústria 4.0 é o de que, ao conectar máquinas, sistemas e ativos, as empresas poderão criar redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor. As fábricas inteligentes terão a capacidade e autonomia para operar, prever falhas no processo e adaptar a produção à demanda automaticamente. A internet das coisas [conexão em rede de objetos físicos, ambientes, veículos e máquinas por meio de dispositivos eletrônicos, como sensores, que permitem a coleta e troca de dados] é o item mais crucial na indústria 4.0, é por meio dela que a quarta revolução industrial está acontecendo.

De que modo isso vai impactar os negócios?

Carbeck: Vai impactar tanto as operações das empresas como o próprio modelo de negócios. Do ponto de vista operacional, as tecnologias poderão prover manutenção preventiva, monitoramento remoto da produção, utilizar dados sobre o uso de determinado produto pelos consumidores em melhorias nos próprios produtos. Em termos de mudanças no modelo de negócios, novos produtos e serviços poderão ser criados a partir desses dados, gerando outras oportunidades de receita e um aprofundamento na relação com os consumidores. E as empresas poderão aumentar sua lucratividade não apenas baseadas em ganhos de escala como é hoje, mas em conhecer com mais profundidade seus consumidores.

Qual a contribuição da indústria 4.0 para a sustentabilidade?

Carbeck: A indústria 4.0 vai eliminar ineficiências no processo fabril e permitir usar os recursos naturais de forma mais controlada. A geração de resíduos tende a cair a quase zero, e as empresas poderão desenvolver soluções mais robustas para seus produtos quando chegarem perto do fim da vida útil com base na análise de dados do comportamento do consumidor.

O senhor poderia citar outros exemplos?

Carbeck: Empresas como Philips, Siemens, Nike, Basf e Fujitsu estão empregando tecnologias da indústria 4.0 e já obtêm resultados em termos de economia de recursos naturais. A Basf utiliza análise de dados em sua fábrica de sabonetes em Kaiserslautern, na Alemanha, e reduziu o desperdício de matérias-primas no processo. Na Holanda, a fábrica de barbeadores elétricos da Philips opera como uma autêntica fábrica escura, com 128 robôs e apenas nove trabalhadores para gerenciar a produção, o que reduz muito o consumo de energia em relação a uma fábrica convencional, que funciona em vários turnos com funcionários.

Em relação ao pilar social do conceito de sustentabilidade, a indústria 4.0 não teria efeitos negativos, já que fábricas automatizadas tendem a eliminar empregos?


Carbeck: Esse é um ponto que vem sendo muito discutido. Na mineração, por exemplo, a automação da atividade vem reduzindo drasticamente a necessidade de mão de obra. Já faz certo tempo que, na indústria, muitos trabalhos mais repetitivos vêm sendo substituídos pela automação, e com a indústria 4.0 essa tendência se acentua. Por outro lado, ela vai demandar profissionais qualificados, especialmente nas áreas ligadas a tecnologia.

Fonte: Valor Econômico Local SP Data 28/09/2016
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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