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Greenpeace mapeia projetos de energia solar

Webdocumentário mostra potencial de nova fonte de eletricidade no Brasil

Morador de Vila Várzea Alegre, no Amazonas, limpa os painéis que ajudam a bombear água para casa, evitando que ele tenha que descer ao rio várias vezes ao dia


RIO - Uma das memórias que não abandonam o acriano Moisés Moreira é a da fisionomia dos índios quando viam, pela primeira vez, um equipamento de energia solar funcionando: as pupilas se dilatavam instantaneamente, ao passo que um leve sorriso começava a se esboçar nos rostos deles. Moreira, hoje com 27 anos, pôde observar a cena repetidas vezes como voluntário do Centro Yorenka Ãtame, instituição que leva energia renovável a aldeias no Norte do país. Os painéis fotovoltaicos e as baterias que ele e outros voluntários transportavam de barco, às vezes em um dia inteiro de viagem, puseram fim ao isolamento daqueles povos e permitiram que eles pudessem conservar alimentos. Algo antes impensável.

— É muito bom ver que as pessoas podem se beneficiar de energia limpa, sem desmatar, nem criar barragem — destaca Moreira, hoje estudante de Engenharia Ambiental e "multiplicador solar" do Greenpeace, com a missão de divulgar em diferentes estados do país os benefícios desse tipo de energia.

Iniciativas como a do Centro Yorenka Ãtame foram reunidas pelo Greenpeace no webdocumentário "Sol de Norte a Sul" (Soldenorteasul.org.br), que acaba de ser lançado, com vídeos, textos, infográficos e fotos que traçam um panorama da energia solar fotovoltaica no Brasil. A plataforma virtual conta com um espaço para receber indicações de internautas sobre outras iniciativas espalhadas pelo país e no mundo. A partir disso, a meta do Greenpeace é criar um mapa localizando os pontos de geração de energia solar.

O projeto mostra ainda as vantagens dessa fonte energética — como a queda na conta de luz e a criação de empregos — e discute como os impostos e a escassez de financiamento para quem quer gerar sua própria energia dificultam a disseminação desse sistema no Brasil.

'UM MILHÃO DE PLACAS ATÉ 2020'

Histórias como a de Moisés Moreira fazem parte de um mosaico que vem se formando a passos lentos. Hoje, só 0,02% da eletricidade do país vem do Sol. E parte desse índice é composto por pequenas comunidades no interior do país, como Vila Várzea Alegre, no Amazonas, onde a energia solar ajuda a bombear a água do rio para as casas, facilitando as atividades domésticas.

Também no Amazonas, a comunidade Vila Nova Amanã se beneficia do gelo feito a partir de máquinas movidas a energia solar. Graças a isso, os pescadores podem manter os peixes frescos por mais tempo. Em Juazeiro, na Bahia, a novidade mudou a vida de Lucineide Silva. A moça, que já passou fome junto com os oito filhos, hoje tem uma microempresa de manutenção de painéis fotovoltaicos, com a qual sustenta a sua família. Estas e outras histórias são contadas no webdocumentário.

Porém, esse cenário ainda tem muito o que crescer. Apenas três em cada dez brasileiros sabem que podem gerar sua própria energia, de acordo com uma pesquisa realizada pela Market Analysis em parceria com o Greenpeace. Ainda assim, quase 90% dos entrevistados afirmaram ter interesse em saber mais sobre como fazer isso.

— Existem mais de mil casas com telhados solares hoje no Brasil, mas nosso objetivo é chegar a um milhão até 2020 — aspira Bárbara Rubim, coordenadora da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil. — A meta é plausível, porque o tempo de instalação das placas é de até dois dias, e, com os aumentos na tarifa de energia elétrica, a alternativa solar fica cada vez mais atraente. Na Alemanha, mais de 8 milhões de cidadãos são beneficiados por esse tipo de energia. O Brasil, com sua alta incidência de Sol, não pode se contentar com o que tem hoje.

Instalar o sistema em uma casa com quatro pessoas não é barato. Bárbara explica que custa cerca de R$ 17 mil. No entanto, o investimento se paga em aproximadamente oito anos, e os painéis de energia solar duram mais de duas décadas.

Segundo o Greenpeace, se todo o potencial teórico de geração de eletricidade nas casas brasileiras fosse aproveitado com sistemas fotovoltaicos, o país produziria o suficiente para abastecer mais de duas vezes seu atual consumo residencial. A ONG ambiental também calcula que o aproveitamento da energia do Sol poderia criar seis milhões de postos de trabalho diretos e indiretos e gerar economia de cerca de R$ 95 bilhões por ano para a população.

O maior empecilho para tudo isso, diz a organização, são os impostos sobre os equipamentos e sobre o uso desse tipo de energia, o que encarece em ao menos 20% os sistemas fotovoltaicos.

No entanto, se compararmos o início de 2015 com o início deste ano, há motivos para comemorar. Uma resolução de dezembro da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determina novas regras para o setor a partir de março, diminuindo o peso de tributos como ICMS, PIS e Cofins sobre a energia solar. Além disso, o Programa de Geração Distribuída, lançado no fim do ano passado pelo governo federal, reúne ações que deverão ser tomadas em 2016 para trazer mais competitividade à geração de energia renovável.

— Já agora, ao todo, temos 15 estados, incluindo Rio e São Paulo, que deixaram de cobrar o ICMS — destaca Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). — A expectativa é de que, num momento em que a economia brasileira patina, a energia solar ajude a dinamizar esse cenário e a trazer muitos empregos. O setor cresceu 300% em 2015 e esperamos que cresça ainda mais este ano.

Fonte: Otávio Almeida/Greenpeace
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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