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Aumento da eficiência energética precisa ser mais veloz



As metas que o governo brasileiro levará à conferência do clima de Paris (CoP 21) são arrojadas perante os compromissos assumidos por outros países emergentes, mas faltam rapidez no objetivo de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e ambição no aumento pretendido de 10% da eficiência energética. A análise foi feita por Nigel Topping, presidente do movimento We Mean Business, coalizão internacional que reúne mais de 200 empresas em todo o mundo com o objetivo de reduzir emissões de gases de efeito-estufa. Em sua palestra no seminário Sustentável 2015, Topping falou dos riscos e oportunidades para as empresas na transição para a economia de baixo carbono.

"O compromisso nacional do Brasil (INDC) se mostrou arrojado, mas esperar até 2030 para eliminar o desmatamento ilegal é muito devagar. Alcançar 10% de eficiência energética também não soa como algo ambicioso para um país que tem condições de liderar globalmente esse processo", afirmou Topping. Segundo ele, a economia brasileira poderia se beneficiar das vantagens competitivas que já possui em áreas como florestas, agricultura, energias renováveis e biocombustíveis. "O caso brasileiro é único porque o país tem o potencial de transformar toda sua economia em uma economia de baixo carbono, num modelo que pode servir de inspiração para outros países."

As expectativas para a CoP 21 estiveram no centro do debate. Para Topping, a conferência de Paris reúne todas as condições para representar um marco no modo como os países e as empresas se posicionam frente ao desafio das mudanças climáticas e representa uma ruptura em relação às conferências anteriores. O acordo que deve resultar do encontro será assinado por 196 países e, pela primeira vez, todos, sejam ricos ou em desenvolvimento, apresentarão compromissos para reduzir as emissões e evitar que a temperatura global se eleve acima de 2ºC - embora o cenário atual aponte para um mundo 3,5°C mais quente, com impactos gigantescos para as economias.

A CoP 21 é mais simbólica também porque, além das nações representadas, haverá uma grande mobilização de políticos municipais e estaduais e CEOs de empresas. Mais de 1.000 companhias de todo o mundo já assumiram objetivos para reduzir as emissões, e há ainda um movimento no âmbito do Consumer Goods Forum, que reúne grandes indústrias e varejistas como Walmart, Ikea e P&G para que não se compre mais produtos de cadeias produtivas que incentivem o desmatamento até 2020.

O grande desafio para os próximos anos será acelerar a transição para um modelo econômico com baixa emissão de carbono. Para Paulo Stark, presidente da Siemens do Brasil, a tecnologia necessária para essa transição já está disponível - hoje 46% do faturamento global da empresa são soluções e serviços que combatem as emissões de CO2, que ajudaram a reduzir 428 de milhões de toneladas de CO2 ao longo de 2014, o equivalente à metade das emissões totais da Alemanha, segundo Stark. São desde equipamentos para produção de energia eólica, sistemas de automação, até o desenvolvimento de soluções de armazenamento de energia da eletrólise da água para produção de células combustíveis de hidrogênio.

"A tecnologia não é uma barreira. Pelo contrário, ela está disponível e na maior parte das vezes ela é vista como economicamente viável, mas existem barreiras psicológicas que precisam ser vencidas", afirmou Stark. Entre essas barreiras, está a percepção de que tecnologias de baixo carbono são muito caras ou só geram retorno no longo prazo. O fator crise também é um fantasma: segundo o executivo, momentos de crise econômica acabam desestimulando novos investimentos mesmo quando as empresas ou os governos têm caixa para realizá-los.

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Uma coisa é certa: as mudanças climáticas, seja em razão de sua mitigação ou da adaptação, vão exigir investimentos de US$ 6 trilhões anuais em infraestrutura urbana, transportes, energia e sistema de água pelos próximos 50 anos, segundo um recente estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI). E há dois movimentos na comunidade financeira internacional que indicam que não faltará capital circulando para combater o aquecimento global. Um deles são os chamados green bonds - títulos de dívida emitidos por entidades financeiras, empresas ou públicas com o objetivo de financiar ativos com atributos verdes ou que ajudem a mitigar as mudanças climáticas -, também conhecidos como climate bonds.

Os primeiros green bonds foram lançados em 2013 e hoje já existe uma diferença significativa na base de investidores, segundo Justine Bell, gerente da Climate Bonds Initiative. "Não existe escassez de capital, e estamos vendo uma mudança no tipo de papéis que os investidores buscam", diz Justine. O mercado de green bonds deve movimentar US$ 100 bilhões em 2015, segundo a entidade.

O outro movimento é a chamada 'descarbonização' dos portfólios de investimento - bastante forte nos países europeus, vem despertando a comunidade de investidores institucionais, como fundos de pensão e entidades filantrópicas, para os riscos iminentes das mudanças climáticas. Num primeiro momento, a ideia é que mensurem a pegada de carbono dos seus investimentos. Depois, retirem recursos de empresas poluidoras, privilegiando as que atuam no segmento de energias renováveis ou possuam baixa emissão de carbono. No Reino Unido, empresas como Exxon, Shell e BP têm sido confrontadas por investidores para que assumam metas concretas de redução das emissões; e o fundo de pensão do governo da Noruega anunciou, este ano, a retirada de € 8,2 bilhões de empresas ligadas à exploração de carvão.

Fonte: Valor
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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