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O engenheiro do futuro vai precisar de muita criatividade

Para Sadoway, falta às escolas ensinar
comunicação nos cursos de engenharia

Criatividade e arte são termos que não costumam ser associados ao ensino de engenharia. Mas eles são a chave para a formação desses profissionais no futuro. Essa é a opinião de Donald Sadoway, professor do departamento de engenharia e química dos materiais do Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma das instituições mais renomadas do mundo no ensino e pesquisa de ciências, engenharia e tecnologia.

Para Sadoway, falta às universidades ensinarem os engenheiros a desenvolverem mais a capacidade de criação. "Identificar o problema é só metade do trabalho. Esse profissional precisa ser capaz de construir algo melhor. É quase como tentar despertar o lado artístico de alguém", diz.

Em um projeto com alunos do MIT, Sadoway desenvolveu a bateria com metal líquido, uma nova forma de energia renovável que pode ser usada em grande escala. Neste mês, ele virá ao Rio de Janeiro para o ABM Week, evento da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração, onde vai participar de uma discussão sobre o perfil do engenheiro do futuro.

Em tempos em que a palavra da moda é "big data", Sadoway acha que o ensino de engenharia precisa passar por uma mudança que mova o foco de habilidades analíticas para outras mais "sintéticas". "Isso significa que precisamos ser melhores em construir coisas ao invés de apenas fazer diagnósticos", diz. Segundo ele, o modelo de ensino atual é muito reflexivo, dando prioridade a ensinar os estudantes como se analisa componentes de um todo. "A engenharia é uma ciência aplicada e, desse modo, o engenheiro precisa ser um inventor. A ciência deve ser usada a serviço da humanidade", diz.

Ele reconhece, entretanto, que esse processo não é fácil. "É como ensinar criatividade", diz. O caminho, para ele, é se dedicar mais a aspectos sociais dentro do ensino de disciplinas técnicas. Do contrário, o resultado são engenheiros eficientes em seu trabalho, mas que não conseguem alcançar os níveis mais altos das corporações. "Se você observar quem vira CEO de uma empresa tecnológica, raramente é um engenheiro. Hoje, não adianta apenas ser capaz de chegar à resposta certa, é preciso convencer os outros da validade da sua resposta", diz.

O ambiente universitário tem papel crítico nesse processo. "Educar não é apenas dar uma aula, mas proporcionar a vivência no campus para aprender a conviver com outras pessoas", diz. Sadoway diferencia o estudante de um estudioso, e considera que o período na universidade deve promover a transformação de um em outro. "O estudante quer aprender para passar na prova, o estudioso quer aprender porque está curioso e quer se aprofundar em um assunto", diz.

No MIT, onde Sadoway está há quase 40 anos, um quarto dos cursos de graduação em engenharia é formado por disciplinas não técnicas - e não apenas temas relacionados a negócios, gestão ou liderança. "São matérias dos departamentos de artes e ciências sociais, ministradas com o mesmo rigor das disciplinas técnicas", diz.

Nos últimos 15 anos, também houve uma mudança no currículo para dar mais ênfase à comunicação dentro dos tópicos mais tradicionais da engenharia. As exigências das aulas incluem fazer os alunos se expressarem de diversas formas, como apresentações orais ou trabalhos escritos. "Se você quer formar um engenheiro melhor, não deve empurrar mais conteúdo técnico para ele, e sim o expor a disciplinas humanas, para expandir a mente dele", diz.

Isso ajuda no preparo para a carreira e faz com que esses profissionais se destaquem mesmo em um mercado de trabalho menos aquecido, como o do Brasil atualmente. "A chave é descobrir quais são as suas habilidades transferíveis. Só porque você foi educado como um engenheiro mecânico, não quer dizer que você só pode trabalhar nessa área. O que você aprendeu na faculdade foi a resolver problemas", enfatiza.

A realização pela qual é mais conhecido, sua pesquisa no desenvolvimento da bateria de metal líquido, é um exemplo que ilustra bem as mudanças que Sadoway defende no ensino de engenharia, como a importância de saber se comunicar bem. Sua apresentação sobre o processo para o site de palestras TED, por exemplo, já foi assistida 1,6 milhão de vezes e rendeu ao professor a inclusão de seu nome na lista das cem pessoas mais influentes do mundo da revista "Time", em 2012.

Um dos pontos que ele sempre reforça é o fato de ter empregado apenas alunos dos cursos de pós-graduação e doutorado do MIT, e não especialistas da área de baterias. "Tudo o que os especialistas faziam era analisar meus dados, dizer o que havia de errado com eles e que a pesquisa estava fadada ao fracasso", conta. Faltava dar o salto entre a capacidade de análise e a disposição de construir algo em cima dos dados.

Para o professor, isso pode ser uma lição para empresas que querem desenvolver a inovação internamente. "Não serei arrogante em dizer que não há espaço para especialistas, mas se você está tentando criar algo pela primeira vez, apoiar-se demais na expertise existente pode levar a uma condenação prematura", enfatiza. O caminho mais indicado por Sadoway é agir como guia e mentor de quem não tem experiência, mostrar o problema e ensiná-los a como pensar nele. "A partir daí, se deixá-los livres para agirem sozinhos, eles poderão fazer milagres", diz.

Fonte: VE
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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