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Da crise de 2001 à mudança no padrão de consumo


Penumbra. Nem o Salão Verde da Câmara escapou do racionamento de energia provocado pela crise do apagão 
Penumbra. Nem o Salão Verde da Câmara escapou do racionamento de energia provocado pela crise do apagão Ailton de Freitas/21-05-2001


Um mapa do Brasil todo preto. Foi com essa imagem e com o título "Começa o racionamento" que a capa do caderno de Economia informou aos brasileiros, no dia 17 de maio de 2001, que se iniciava oficialmente no país uma fase tenebrosa para a infraestrutura nacional, com reconhecimento da falta de oferta de energia elétrica para todas as atividades, desde a produção das indústrias até a iluminação pública. Hoje, 14 anos depois, o país passa por um novo período de restrições, e o consumidor paga um preço alto nas contas de luz para não ficar novamente às escuras.

Se a crise elétrica voltou à porta, o remédio à disposição da população em geral para reagir continua sendo o mesmo: economizar. Na época do apagão, O GLOBO lançou a coluna "Como economizar energia", que tirava dúvidas de leitores sobre formas de combater o desperdício. O trabalho ganhou o prêmio Imprensa do Procel 2001.

O brasileiro se viu obrigado a aprender sobre consumo consciente. Em reportagem publicada em 13 de julho de 2001, Marly Leopardi, proprietária do restaurante Satyricon, por exemplo, resistia a trocar as lâmpadas incandescentes do seu restaurante por considerar feias as luzes fluorescentes, mais econômicas.

Mesmo com uma redução de impostos de 30% naquela época, o governo via dificuldade em difundir um novo tipo de iluminação mais eficiente. Mas a mudança acabou sendo imposta com o progressivo fim das vendas de lâmpadas incandescentes, processo ainda em curso.

SENSOR DE MOVIMENTO E LED

Apesar das reclamações, em 2001, o Satyricon acabou trocando todas as suas lâmpadas, parte por fluorescentes e parte pelas eletrônicas, que também consomem menos. Substituiu, à época, parte das máquinas que funcionavam com eletricidade por outras a gás. Mas foi em dezembro do ano passado, já na crise atual, que o restaurante passou por uma operação de controle de gastos mais drástica.

- Temos adotado medidas de contenção de consumo, fortemente reeducando nossa equipe para um consumo consciente, ligando e desligando equipamentos de forma pontual - disse Manuel Lourenço, gerente de operações do restaurante.

Assim como outras empresas, o restaurante se adaptou: hoje concentra produtos em poucos freezers ligados, usa sensores de movimento para acender as luzes e lâmpadas LED (mais econômicas), além de adotar cuidado redobrado com portas de câmaras frias, geladeiras e balcões frigoríficos.

Do racionamento de energia à escalada de tarifas

Apesar de o racionamento estar em um passado não muito distante, as lições da crise não foram suficientes para evitar um novo risco ao desenvolvimento do país. Segundo especialistas, a responsabilidade pelo problema passa pelo relaxamento dos consumidores quanto a práticas eficientes, pela falta de chuvas que reduziu o nível de água dos reservatórios das hidrelétricas e pelas falhas no planejamento da expansão do sistema elétrico.

Quando a quantidade de energia disponível já mostrava sinais de esgotamento diante do avanço da demanda, o governo decidiu reduzir, no início de 2013, em 18%, em média, as tarifas. Para especialistas, isso ajudou a estimular o consumo. A fase de energia barata durou pouco. Ao assumir em janeiro, a equipe econômica anunciou o fim dos aportes do Tesouro ao setor elétrico. A partir daí, os preços seriam realistas. Foram adotadas bandeiras tarifárias, e, com a revisão das tarifas, a conta de luz subiu até 40% em algumas regiões.

- Foram dois racionamentos: o de 2001, em que se decretou que havia uma anormalidade, e este de hoje, que é via preço. Este é diferente na forma, mas impõe restrições ao consumo e ao crescimento do país - disse José Jorge, ex-ministro de Minas e Energia, que comandou a pasta durante o racionamento de 2001 e atuou na área como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) até o ano passado.

CUSTO EXTRA DE R$ 3,9 BI

Como forma de estimular a economia, o governo repassa aos consumidores o custo da energia, que em época de escassez se torna mais cara. Por meio das bandeiras tarifárias, desde o início do ano, os brasileiros já pagaram custo extra de R$ 3,9 bilhões. O efeito para o consumidor foi retratado, em abril, na reportagem "Energia contamina inflação", mostrando que o reajuste levou o índice de preços a registrar em março a maior alta para o mês em 20 anos.

Além de repassar preços, o governo fez mudanças para incrementar em 1,5 mil megawatts a oferta de energia no Sudeste, onde está mais escassa. E tem lançado campanhas para estimular a troca de equipamentos e a conscientização da população.

Leia mais sobre esse assunto em http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/da-falta-de-estrutura-fez-se-crise-do-apagao-no-brasil-do-inicio-do-seculo-xxi-9396417#ixzz3h5xcFK8a
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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