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Brasil promete fim de desmatamento ilegal e mais energia limpa

Em parceria com os EUA, País assume meta de ter 20% de fontes renováveis na matriz elétrica; anúncio frustra ambientalistas


[Washington] - O Brasil prometeu ontem em Washington restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e acabar com o desmatamento ilegal até 2030. As medidas integram declaração sobre mudança climática fechada com os Estados Unidos e anunciada pelos presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama. Os dois países se comprometeram ainda a elevar a 20%, no mesmo período, a participação de fontes renováveis em sua matriz elétrica - sem considerar a geração hídrica.

O acordo representa a mais importante colaboração em âmbito global entre os dois países e teve a função de alinhar a visita de Dilma a Washington às prioridades de Obama, que pretende deixar um legado no combate ao aquecimento global. No ano passado, EUA e China anunciaram metas concretas para a redução da emissão de gases do efeito estufa.

Especialistas em clima e ativistas ambientais ouvidos pelo Estado comemoraram o compromisso assumido pelos dois presidentes, mas ficaram frustrados com a falta de ambição das poucas metas anunciadas.

Depois do encontro que tiveram ontem na Casa Branca, Obama e Dilma prometeram se empenhar para o sucesso da Conferência do Clima que será realizada em Paris no fim do ano, na qual os países assumirão compromissos de redução de emissões a partir de 2020.

Além das promessas do Brasil em relação a florestas, o principal compromisso foi o aumento das fontes renováveis na matriz elétrica, classificado de "ambicioso" por Obama. Para os americanos, isso significa triplicar o porcentual atual. No Brasil, a contribuição de fontes renováveis dobraria até 2030. No caso das florestas, a meta de 12 milhões de hectares vai mais que duplicar a área plantada do País, que ocupa hoje 7,1 milhões de hectares.

O documento não traz metas específicas de redução de emissões por parte do Brasil, algo que os americanos gostariam de ver. O governo Dilma pretende apresentar seus compromissos no âmbito da negociação de Paris, que têm caráter multilateral. Para assessores da presidente, não fazia sentido revelar números em uma visita bilateral. Ontem o País se comprometeu a adotar reduções ambiciosas, mas não especificou números.

O ponto mais criticado entre os especialistas foi o anúncio de Dilma quanto à eliminação do desmatamento ilegal. "E constrangedor que um país como o Brasil, que já demonstrou grande capacidade institucional de reduzir o desmatamento, anuncie em uma reunião entre chefes de Estado que implementará políticas para cumprir sua obrigação de eliminar o crime ambiental", disse Carlos Rittl, secretário-geral do Observatório do Clima.

Para Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), não houve novidades cm relação ao desmatamento. "Do ponto de vista qualitativo, por outro lado, achei o comunicado conjunto bom, porque reconhece a urgência do tema das mudanças climáticas."

Segundo o físico José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomercio-SP, as metas para energia - atingir 28% a 33% de renováveis na matriz em 2030, excluindo hidrelétricas- não são apenas pouco ambiciosas, mas podem decretar no futuro um aumento absoluto das emissões de CO2.

Reações

Jose Goldemberg
Presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomercio-SP
"As propostas para desmatamento e reflorestamento são boas. Mas, no que se refere à matriz energética, o compromisso não reduzirá a quantidade de emissões de gases de efeito estufa - e poderá até aumentá-las. Não houve nenhuma novidade. Tudo o que foi anunciado já estava no plano da Empresa de Pesquisa Energética".

Carlos Ritll
Secretário-geral do Observatório do Clima
"Ao afirmar que buscará políticas para eliminar o desmatamento ilegal, o governo está dizendo que aceita conviver com o crime - e não se sabe por quanto tempo, já que não foi estabelecido um prazo claro para essa meta. Todos os outros países tropicais já se comprometeram a zerar o desmatamento em 2030"

Adalberto Veríssimo
Pesquisador sênior do Imazon
"O Brasil precisa restaurar muito suas áreas florestais. Só no Pará, será preciso recuperar cerca de 2 milhões de hectares. Na Amazônia inteira, o passivo é de pelo menos 8 milhões de hectares. Nesse contexto, eu diria que a meta de restaurar 12 milhões de hectares de florestas não chega a ser ambiciosa, mas é razoável"

Fonte: O Estado de São Paulo
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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