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Hora de reiniciar a internet



A forma como o seu computador se comunica com a internet vai mudar nos próximos meses. O grupo responsável pela atualização do protocolo HTTP, como são conhecidas as regras para o envio de informações do servidor ao navegador, está trabalhando nos últimos detalhes da aprovação das novas normas. A adoção do protocolo deve levar a uma conexão mais veloz, diminuir a demanda pela banda larga e simplificar o acesso seguro à rede.

HTTP é a sigla em inglês para Protocolo de Transferência de Hipertexto, nome dado ao padrão de comunicação de dados da World Wide Web (WWW). O modelo HTTP/2 começou a ser desenvolvido há dois anos e foi concluído no fim do mês passado, depois de 17 versões e 30 implementações diferentes. Essa é a maior mudança no protocolo desde 1999, quando o HTTP/1.1 foi instituído, e provavelmente é a mais significativa desde a sua criação, em 1990.

A novidade foi baseada no SPDY, protocolo criado pelo Google em 1999 e que é usado por alguns sites, como o Facebook, o Twitter e a própria página do buscador. Em testes realizados pela companhia, o primeiro protocolo resultou numa conexão até 55% mais veloz que a tradicional. O SPDY já passou por outras três versões desde que surgiu e recebeu uma série de adaptações antes de dar origem ao HTTP/2.

A princípio, a adoção do projeto do Google foi interpretada como uma imposição feita pela empresa, mas os responsáveis pela mudança asseguraram que não houve pressão para trabalhar a partir do modelo usado pela gigante da internet. “Eles se aproximaram com a melhor das intenções, pacientemente explicando o raciocínio por trás do seu design, aceitando críticas e trabalhando com todos para desenvolver o protocolo”, garantiu em seu blog Mark Nottingham, presidente do IETF HTTP Working Group, o grupo de trabalho especializado da Força Tarefa de Engenharia da Internet, responsável pela manutenção do protocolo.

O processo de mudança deve ser gradual e não exige nenhuma adaptação por parte dos internautas. Basta manter o navegador sempre atualizado para ter acesso às versões mais recentes dos browsers, que, eventualmente, devem oferecer o acesso às páginas que se comunicam por meio das novas normas. As regras ainda precisam passar por alguns processos editoriais antes de serem publicadas como um padrão, mas já foram adotadas por alguns dos maiores sites e navegadores. A próxima atualização do Firefox deve vir preparada para usar o HTTP/2, assim como o navegador Spartan e o Internet Explorer do Windows 10.

O Google também divulgou que planeja trocar o SPDY pelo HTTP/2 no Chrome. “Estamos felizes de termos contribuído com o processo aberto que levou ao HTTP/2 e esperamos ver uma adoção grande, considerando o comprometimento da indústria”, declarou, em um post no blog do Chrome, Chris Bentzel, responsável pela mudança. A transição deve levar um ano para ser concluída no navegador do Google, mas o processo pode ser muito mais demorado até a adaptação de todos os servidores e aplicativos com acesso à web.

Velocidade
Uma das principais novidades do novo modelo é um sistema chamado multiplexação. A dinâmica atual de comunicação na internet depende de uma série de requisições feitas pelo computador, que pede separadamente por cada elemento da página. Os objetos são, então, enviados pelo servidor por meio da rede, um por um. No HTTP/2, esse processo deve se tornar mais veloz. “Em vez de pedir um objeto por vez, eu peço todos eles numa mesma conexão. Ele já sabe tudo o que vai precisar, pede tudo de uma vez, e o servidor vai mandar tudo de uma vez”, explica Ricardo Puttini, professor do curso de engenharia de redes de comunicação da Universidade de Brasília (UnB).

A medida é essencial porque a maioria dos sites atuais é carregada de elementos dinâmicos que exigem um número muito maior de requisições do navegador do que antigamente. “Quando a web começou, tinha uma velocidade mais baixa, e tínhamos hipertextos, como compostos de textos e links. Hoje não falamos mais em hipertexto, falamos em hipermídia. Também temos imagens, vídeos e microaplicações das páginas, todos com os comportamentos mais diversos. Isso demanda uma transferência de informações mais pesada do que aquela que acontecia no início”, justifica Ricardo Puttini.

Outra diferença que deve tornar essa conversa mais simples é o uso de servidores push. O termo se refere a um tipo mais proativo de sistema de computação: toda vez que houver alguma atualização na página, ele envia a novidade para a máquina por conta própria. O processo é semelhante aos aplicativos de celular que alertam o usuário de uma nova mensagem, sem que seja necessário acessar o programa. Até então, os navegadores precisavam manter um diálogo repetitivo, em que sempre perguntavam ao servidor se havia alguma novidade para incluir na página visualizada.

Compressão
Os internautas com acesso a uma banda larga de qualidade talvez não notem a diferença entre o antigo e o novo protocolo, mas um fator deve facilitar consideravelmente o carregamento de sites em conexões de baixa velocidade. A chamada compressão de cabeçalhos vai criar um tipo de versão mais leve das páginas, enviando informações em um formato resumido, que consome menos dados e pode ser carregado mais rapidamente.

“Quando o navegador pedir para o servidor enviar uma imagem, por exemplo, o servidor envia primeiro algumas informações sobre o objeto que ele pede, e depois o objeto”, esclarece Francisco José Monaco, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP). “Esses são os dados de cabeçalho, e a compressão deixa o processo mais rápido. O servidor comprime o cabeçalho e o arquivo fica menor. Isso diminui a quantidade de dados”, resume.

Embora o novo padrão não inclua medidas significativas de proteção, espera-se que ele melhore a segurança no acesso à internet, pois o modelo favorece a comunicação criptografada entre servidor e computador, mantendo os dados protegidos durante o trânsito da informação. Os desenvolvedores dos principais navegadores também afirmaram que vão adotar o protocolo combinado com um sistema de criptografia. Isso significa que os sites que quiserem aproveitar dos benefícios da conexão mais rápida deverão incorporar a medida de segurança para operar com esses browsers.

"Hoje, temos imagens, vídeos e microaplicações das páginas, todos com os comportamentos mais diversos. Isso demanda uma transferência de informações mais pesada do que aquela que acontecia no início (da internet)” - Ricardo Puttini, professor do curso de engenharia de redes de comunicação da UnB

Fonte: Correio Braziliense
Emerson Tormann

Técnico Industrial em Elétrica e Eletrônica com especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação. Editor chefe na Atualidade Política Comunicação e Marketing Digital Ltda. Jornalista e Diagramador - DRT 10580/DF. Sites: https://etormann.tk e https://atualidadepolitica.com.br

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